São Jorge foi, conforme a
tradição, um soldado romano no exército do imperador Diocleciano,
venerado como mártir cristão. Na hagiografia, São Jorge
é um dos
santos mais venerados no catolicismo (tanto na Igreja Católica
Romanae na Igreja Ortodoxa como também na Comunhão Anglicana e
no Luteranismo). É imortalizado na lenda em que mata o dragão. É
também um dos Catorze santos auxiliares.
Considerado como um dos
mais proeminentes santos militares, a memória de São Jorge é celebrada nos
dias 23 de abril e 3 de novembro. Nestas datas, por toda a
parte, comemora-se a reconstrução da igreja que lhe é dedicada, em Lida (Israel),
na qual
se encontram suas relíquias. A igreja foi erguida a mando do imperador
romano Constantino I.
São Jorge é o santo
padroeiro em diversas partes do mundo tais como: (países) Inglaterra, Portugal (orago
menor), Geórgia, Catalunha, Lituânia, Sérvia, Montenegro, Etiópia,
e (cidades) Londres, Barcelona, Génova, Régio da Calábria, Ferrara, Friburgo
em Brisgóvia, Moscovo/Moscou e Beirute.
Há uma tradição que aponta
o ano 303 como ano da sua morte. Apesar de sua história se basear em
documentos lendários e apócrifos (decreto gelasiano do século
VI), a devoção a São Jorge se espalhou por todo o mundo.
No caso específico - São Jorge - os limites terrenos
e espirituais extrapolam o conhecimento atual, pois, sendo a sua existência
real envolvida pelo mito, não se
pode afirmar categoricamente onde termina a
verdade e onde começa a fábula. Ademais, investindo no estado de santidade, sua
figura celestial se confunde com a imagem material que os devotos têm dele.
Fato é que, embora se trate de uma pessoa real, as
origens deste mártir tão enobrecido pela hagiologia são
confusas e incertas. O Breviário Romano não narra
a história do santo, pois o Papa Gelásio I (492 a 496 d.C.)
foi ao ponto de proibir que se lessem suas atas por as considerar apócrifas e
imbuídas de erros.
Os detalhes exatos do nascimento de São Jorge são
debatidos há séculos, apesar da data de sua morte ser sujeita a pouco
questionamento. A Enciclopédia Católica toma a posição de
que não há base para duvidar da existência histórica de São Jorge, mas põe
pouca convicção nas histórias fantásticas sobre ele.
Algumas fontes indicam que seus pais eram cristãos
da nobre família romana dos Anici, ao tempo em que outras fontes
dizem que seus pais eram cristãos de origem grega.[6]
De acordo com lendas já em voga no século IV d.C.,
Jorge teria nascido na antiga Capadócia, região do centro da Anatólia que,
atualmente, faz parte da
República da Turquia. Ainda criança, mudou-se
para a Palestina com sua mãe após
seu pai, Gerôncio, morrer em
batalha. Sua mãe, Policrômia, era originária de Lida, na Palestina,
atual Lod, em Israel, era possuidora de muitos bens,
tendo educado o filho com esmero na Fé Cristã. Ao atingir a adolescência, Jorge
entrou para a carreira das armas, por ser a que mais satisfazia à sua natural
índole combativa. Logo foi promovido a capitão do exército romano devido
a sua dedicação e habilidade — qualidades que levaram o imperador a lhe
conferir o título de conde da província da Capadócia.
Aos 23 anos passou a residir na corte imperial em Nicomédia.
Devido a seu carisma, Jorge não tardou em ascender
na carreira e, antes de atingir os 30 anos foi Tribuno Militar e comes,
sendo encarregado como guarda pessoal do imperador Diocleciano (284-305),
em Nicomédia. Consta que, quando do falecimento de sua mãe,
ele, tomando sua vultosa herança, tudo doou aos pobres e necessitados, causando
tal fato surpresa na corte imperial, a qual ainda desconhecia a fé cristã de
Jorge.
Em 303, Diocleciano (influenciado por Galério)
publicou um édito que mandava prender todo soldado romano cristão e que todos
os outros deveriam oferecer sacrifícios aos deuses romanos. Jorge foi ao
encontro do imperador para objetar, e perante todos declarou-se cristão. Não
querendo perder um de seus melhores
tribunos, o imperador tentou dissuadi-lo
oferecendo-lhe terras, dinheiro e escravos. Como Jorge mantinha-se fiel
ao cristianismo, o
imperador tentou fazê-lo desistir da
fé torturando-o de vários modos. E, após
cada tortura, era levado perante o imperador, que lhe perguntava se renegaria a
Jesus para adorar aos deuses romanos. Todavia, Jorge reafirmava sua fé, tendo
seu martírio, aos poucos, ganhado notoriedade e muitos romanos, tomado as dores
daquele jovem soldado, inclusive a mulher do imperador, que se converteu
ao cristianismo. Finalmente, Diocleciano, não tendo
êxito, mandou degolá-lo no dia 23 de abril de 303, em Nicomédia,
na Ásia Menor
Os restos mortais de São Jorge foram transportados
para Lida (Antiga Dióspolis), cidade em que
crescera com sua mãe. Lá ele foi sepultado, e mais tarde o imperador
cristão Constantino mandou erguer suntuoso oratório aberto aos
fiéis, para que a devoção ao santo fosse espalhada por todo o Oriente.
Pelo século V, já havia cinco igrejas
em Constantinopla dedicadas a São Jorge. Só no Egito,
nos primeiros séculos após sua morte, construíram-se quatro igrejas e quarenta
conventos dedicados ao mártir. Na Armênia, no Império
Bizantino, no Estreito de Bósforona Grécia, São
Jorge era inscrito entre os maiores santos da Igreja Católica.
Posteriormente, quando da reforma do calendário
litúrgico realizada pelo Papa
Paulo VI em 09 de maio de 1969,
a observância do dia de São Jorge tornou-se facultativa, e não mais em caráter
universal. De fato, a reforma retirou do calendário os santos dos quais não
havia documentação histórica, mas apenas relatos tradicionais, porém tal
expurgo não atingiu o santo da Capadócia. Falava-se, naqueles
tempos, em "cassação de santos". No entanto, o fato da festividade
de São Jorge ter se tornado opcional não quer dizer que não
seja reconhecido como santo. Frise-se a reabilitação do santo como figura de
primeira instância, assim como os arcanjos, lembrando a figura do
próprio Jesus Cristo, pelo Papa João Paulo II em 2000,
o que conferiu nova relevância a São Jorge.
Na Itália, era
padroeiro da cidade de Gênova. Frederico III da Alemanha dedicou
a
ele uma Ordem Militar. Desde Dom Nuno Álvares Pereira, o santo é
reconhecido
como padroeiro de Portugal e do Exército. Na França, Gregório
de Tours era conhecido por sua devoção ao santo cavaleiro; o Rei
Clóvis dedicou-lhe um mosteiro, e sua esposa, Santa Clotilde, mandou
erguer várias igrejas e conventos em sua honra. A Inglaterra foi o
país ocidental onde a devoção ao santo teve papel mais relevante.
São Pedro Damião (1072), doutor
da Igreja, em uma de suas festas disse: "De uma milícia
transportou-se totalmente para outra, porque do ofício de tribuno terreno que
exercia passou para a profissão da milícia cristã; como verdadeiro soldado
valente, distribuiu todos os seus bens aos pobres, lançou fora a carga das
posses das terras e, assim livre e desembaraçado, cingiu-se com a couraça da
fé, mergulhou o ardente guerreiro de Cristo no mais denso da luta".
O monarca Eduardo III colocou
sob a proteção de São Jorge a Ordem da Jarreteira, fundada por ele
em 1330. Por considerá-lo o protótipo dos cavaleiros medievais, o rei
inglês Ricardo I, comandante de uma das primeiras Cruzadas,
constituiu São Jorge padroeiro daquelas expedições que tentavam reconquistar
a Terra Santa dos muçulmanos. No século XIII, a Inglaterra já
celebrava o dia dedicado ao santo e, em 1348, criou a Ordem dos
Cavaleiros de São Jorge. Os ingleses acabaram por adotar São Jorge como
padroeiro do país, imitando os gregos, que também trazem a cruz de São
Jorge na sua bandeira.
Ainda durante a Grande
Guerra, muitas medalhas de São Jorge foram cunhadas e oferecidas aos
enfermeiros militares e às irmãs de caridade que se sacrificaram ao tomar conta
dos feridos de guerra.
As artes, também,
divulgaram amplamente a imagem do santo. Em Paris, no Museu do Louvre,
há dois quadros famosos de Rafael intitulados São Jorge e o
dragão. Na Itália, existem diversos quadros célebres, como um de
autoria de Donatello.
A mais conhecida imagem
brasileira de São Jorge seria, possivelmente, de autoria de Martine
Não há consenso, porém, a respeito da maneira como
teria se tornado padroeiro da Inglaterra. Seu nome era conhecido pelos
ingleses e irlandeses muito antes da conquista normanda, o que leva a
crer que os soldados que retornavam das cruzadas influíram bastante na
disseminação de sua popularidade. Acredita-se que o santo tenha sido escolhido
o padroeiro do reino quando o rei Eduardo III fundou a Ordem da
Jarreteira, também conhecida como Ordem dos Cavaleiros de São Jorge, em 1348.
De acordo com a história da Ordem da Jarreteira, Rei Artur, no século VI, colocou
a imagem de São Jorge em suas bandeiras. Em 1415, a data de sua
comemoração
tornou-se um dos feriados mais importantes do país.
Hoje em dia na Inglaterra, todavia, a festa de São
Jorge comemorada todo dia 23 de abril tem tido menos popularidade ao longo das
últimas décadas. Algumas rádios locais, como a BBC já chegaram a
promover enquetes (ou inquéritos em Portugal) perguntando qual
seria, de acordo com a opinião pública, o orago dos ingleses, e eis que o
eleito foi Santo Alba. Muitos fatores contribuíram a isso. Primeiramente por
ter sido substituído, segundo bula do Papa Leão XIII de 2 de
junho de 1893,
por São Pedro como padroeiro da Inglaterra — recomendação que perdura
até hoje.
Atualmente, haja vista a grande popularidade e
apelo turístico de festas como a escocesa St. Andrew's Day, a
irlandesa St. Patrick's Day e mesmo a galesa St. Dave's
Day, têm-se formado grande iniciativa de setores nacionalistas para que
o St. George's Day volte a gozar da mesma popularidade entre
os ingleses como antigamente.
Portugal
Pensa-se que os Cruzados ingleses que
ajudaram o Rei Dom Afonso Henriques a conquistar Lisboa, em 1147 terão
sido os primeiros a trazer a devoção a São Jorge para Portugal. No
entanto, só no reinado de Dom Afonso IV de Portugal que o uso de
"São Jorge!" como grito de batalha se tornou regra,
substituindo o anterior "Sant'Iago!".
O Santo Dom Nuno Álvares Pereira, Condestável
do Reino, considerava São Jorge o responsável pela vitória portuguesa na batalha
de Aljubarrota e aí está a Ermida de
São Jorge a testemunhar
esse facto. O Rei Dom João I de Portugal era também um devoto do
Santo, e foi no seu reinado que São Jorge substituiu Santiago maior como
padroeiro de Portugal. Em 1387, ordenou que a sua imagem a cavalo fosse
transportada na procissão do Corpus Christi.
Catalunha
A presença documental da devoção a São Jorge em
terras catalãs remonta ao século VIII: documentos da época falam de um
sacerdote de Tarragona chamado Jorge que fugiu para a Itália. Já
no século X, um bispo de Vic tinha o nome de Jorge, e no
século
XI o abade Oliba consagrou um altar dedicado ao santo no mosteiro de Ripoll.
Encontram-se exemplos do culto a São Jorge dessa época, na consagração de
capelas, altares e igrejas em diversos pontos da Catalunha. Os reis catalães
mostraram a sua devoção a São Jorge: Tiago I de Catalunha explica em suas
crónica que foi visto o santo ajudando os catalães na conquista da cidade
de Maiorca; Pedro o Cerimonioso fundou uma ordem de cavalaria sob a sua
proteção; Afonso, o Magnânimo
dedicou-lhe capelas nos reinos da Sardenha e Nápoles.
Os reis e a Generalidade da Catalunha impulsionaram
a celebração da festa de São Jorge por todas as regiões catalãs. Em 1436,
a Generalidade da Catalunha propôs,
nas cortes reunidas em Montsó, a celebração
oficial e obrigatória de São Jorge; em 1456, as cortes
reunidas na Catedral de Barcelona ditaram uma constituição que
ordenava a festa, inclusa no código das Constituições da Catalunha. As
remodelações do Palácio da Generalidade (sede do governo catalão) feitas
durante o século XV são
a prova mais clara da devoção impulsionada
por esse órgão público, ao colocar um medalhão do santo na fachada gótica e ao
construir no interior a capela de São Jorge.
A lenda.
Baladas medievais contam que Jorge era filho
de Lorde Albert de Coventry. Sua mãe morreu ao dá-lo à luz e o recém nascido
Jorge foi roubado pela Dama do Bosque para que pudesse, mais tarde, fazer
proezas com suas armas. O corpo de Jorge possuía três marcas: um dragão em seu
peito, uma jarreira em volta de uma das pernas e uma cruz vermelho-sangue em
seu braço. Ao crescer e adquirir a idade adulta, ele primeiro lutou contra os
sarracenos e, depois de viajar durante muitos meses por terra e mar, foi para
Sylén, uma cidade da Líbia.
Nesta cidade, Jorge encontrou um pobre eremita que
lhe disse que toda a cidade
estava em sofrimento, pois lá existia um
enorme dragão cujo hálito venenoso podia matar toda uma cidade, e
cuja pele não poderia ser perfurada nem por lança e nem por espada. O eremita
lhe disse que todos os dias o dragão exigia o sacrifício de uma bela donzela e
que todas as meninas da cidade haviam sido mortas, só restando a filha do rei,
Sabra, que seria sacrificada no dia seguinte ou dada em casamento ao campeão
que matasse o dragão.
Ao ouvir a história, Jorge ficou determinado em
salvar a princesa. Ele passou a noite na cabana do eremita e quando amanheceu
partiu para o vale onde o dragão morava. Ao chegar lá, viu um pequeno cortejo
de mulheres lideradas por uma bela moça vestindo trajes de pura seda árabe. Era
a princesa, que estava sendo conduzida pelas mulheres para o local do
sacrifício. São Jorge se colocou na frente das mulheres com seu cavalo e, com
bravas palavras, convenceu a princesa a voltar para casa.
O dragão, ao ver Jorge, sai de sua caverna,
rosnando tão alto quanto o som de trovões. Mas Jorge não sente medo e enterra
sua lança na garganta do monstro, matando-o. Como o rei do Marrocos e do Egito
não queria ver sua filha casada com um cristão, envia São Jorge para a Pérsia e
ordena que seus homens o matem. Jorge se livra do perigo e leva Sabra para a
Inglaterra, onde se casa e vive feliz com ela até o dia de sua morte, na cidade
de Coventry.
De acordo com a outra versão, Jorge acampou
com sua armada romana próximo a Salone, na Líbia. Lá existia um gigantesco
crocodilo alado que estava devorando os habitantes da cidade, que buscaram
refúgio nas muralhas desta. Ninguém podia entrar ou sair da cidade, pois o
enorme crocodilo alado se posicionava em frente a estas. O hálito da criatura
era tão venenoso que pessoas próximas podiam morrer envenenadas. Com o intuito
de manter a besta longe da cidade, a cada dia ovelhas eram oferecidas à fera
até estas terminarem e logo crianças passaram a ser sacrificadas.
O sacrifício caiu então sobre a filha do rei,
Sabra, uma menina de catorze anos.
Vestida como se fosse para o seu próprio
casamento, a menina deixou a muralha da cidade e ficou à espera da criatura.
Jorge, o tribuno, ao ficar sabendo da história, decidiu pôr fim ao episódio,
montou em seu cavalo branco e foi até o reino
resgatá-la, mas antes fez o rei
jurar que se a trouxesse de volta, ele e todos os seus súditos se converteriam ao
cristianismo. Após tal juramento, Jorge partiu atrás da princesa e do
"dragão". Ao encontrar a fera, Jorge a atinge com sua lança, mas esta
se despedaça ao ir de encontro à pele do monstro e, com o impacto, São Jorge
cai
de seu cavalo. Ao cair, ele rola o seu corpo, até uma árvore de laranjeira,
onde fica protegido por ela do veneno do dragão até recuperar suas forças.
Ao ficar pronto para lutar novamente, Jorge acerta
a cabeça do dragão com sua poderosa espada Ascalon. O dragão derrama então o
veneno sobre ele, dividindo sua armadura em dois. Uma vez mais, Jorge busca a
proteção da laranjeira e em seguida, crava sua espada sob a asa do dragão, onde
não havia escamas, de modo que a besta cai muito ferida aos seus pés. Jorge
amarra uma corda no pescoço da fera e a arrasta para a cidade, trazendo a
princesa consigo. A princesa, conduzindo o dragão como
um cordeiro, volta para
a segurança das muralhas da cidade. Lá, Jorge corta a cabeça da fera na frente
de todos e as pessoas de toda cidade se tornam cristãs.
“Nos tempos atuais os seus devotos relacionam a imagem
do dragão as grandes dificuldades e desafios que temos que enfrentar na busca
pela felicidade.”
ORAÇÃO ORIGINAL DE SÃO JORGE
Ó São Jorge, meu Santo Guerreiro, invencível na fé em Deus,
que trazeis em vosso rosto a esperança e a confiança,
abri meus caminhos. Eu andarei vestido e armado com vossas armas
para que meus inimigos, tendo pés, não me alcancem; tendo mãos,
não me peguem; tendo olhos, não me enxerguem
nem pensamentos possam ter para me fazerem mal.
Armas de fogo o meu corpo não alcançarão, flechas e lanças se quebrarão
sem a meu corpo chegar, cordas e correntes se arrebentarão
sem o meu corpo amarrar. Glorioso São Jorge, em nome de Deus,
estendei vosso escudo e vossas poderosas armas,
defendendo-me com vossa força e grandeza. Ajudai-me a superar todo desânimo
e a alcançar a graça que Vos peço (faça o pedido).
Dai-me coragem e esperança, fortalecei minha fé e auxiliai-me nesta necessidade.