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Pais de criança que sofreu racismo em hotel de luxo em SP desabafam

Ava, 4 anos, filha da empresária e pedagoga Maria Klien Machado, 40 anos, teria sido
 vítima de racismo no Hotel Fasano Boa Vista (SP), no domingo, dia 23 de setembro. Ela foi adotada no Malawi por Maria e seu marido, o empresário e educador Arthur Pinheiro Machado, 42 anos, em fevereiro deste ano.
A mãe contou, em entrevista exclusiva à CRESCER, que a menina passava um final de semana no hotel com a amiga e a babá, Luzinete Leandro, 41 anos, também negra, mãe de Sara, 9 anos. Luzinete estava com Ava na piscina quando percebeu que ela estava sendo rejeitada por algumas crianças brancas. 
"Eu percebi que elas se afastavam de Ava e uma ainda disse: “Você não está vendo que eu estou aqui?”, e se afastou. Não bastasse isso, a criança pegou um espaguete de piscina e começou a bater em Ava, sem motivo. Luzinete na hora detectou que a menina estava sendo vítima de racismo. "Eu peguei Ava, abracei, beijei e fomos para a piscina dos adultos. Quando Ava entrou na água, as mães começaram a pedir para os filhos saírem de lá. "Os pais das crianças passaram a insinuar que Ava tinha "micose" ou alguma outra "doença contagiosa" e se referiram a ela como "esse tipo de gente"", conta Luzinete que decidiu ficar com a menina ali brincando. Quando se deu conta, Luzinete viu a piscina mais vazia. "Eu poderia ter feito tanta coisa, ter chamado a polícia, chamar a direção do hotel. Mas, eu realmente não consegui, não tive forças. Eu só cuidei de crianças brancas e nunca havia passado por isso", conta Luzinete. 
A mãe da menina ficou sabendo horas depois do ocorrido pelo telefone. "Eu fiquei muito mal e impotente. Queria estar lá para defender a minha filha. Passei dois dias com uma tristeza sem fim. Mas, eu e meu marido decidimos usar as redes sociais para explicar o ocorrido porque racismo é crime. Agora, estamos solicitando as imagens do hotel para conseguir achar os agressores e iniciar um processo", diz.
Depois do ocorrido, Maria percebeu que a filha estava triste e também começou a fazer xixi na cama. "Perguntei para Ava se ela lembrava o que tinha acontecido na piscina e ela me disse que as crianças não queriam brincar com ela. Reforcei o quanto ela era linda e que todos somos iguais, independentemente da cor da pele, dos olhos, do cabelo... Temos que educar esta geração para que absurdos como este não se repitam com a minha filha nem com ninguém", diz.
Maria usou as redes sociais para contar sobre o que aconteceu:
"Uma amiga muito querida convidou minhas duas filhas para passar o final de semana em sua casa na Boavista. No vídeo a Ava, minha filha mais nova, aparece transbordando de alegria (ela AMA piscina). Horas depois, também na piscina do @fasano Boavista, essa mesma menina sorridente e tão amável, que ilumina a vida de todos à sua volta sofreu um preconceito medonho. Pessoas, imagino que hóspedes do hotel, saíram da piscina dizendo que ela estava cheia de micoses e que “esse tipo de gente tem doenças contagiosas seríssimas”. Escrevo aqui com lágrimas nos olhos e com o coração apertado. Infelizmente não estava lá para proteger a minha filha dessa monstruosidade e depois de muito meditar decidi que o melhor a fazer era compartilhar esse post. Situações como essa não podem ficar impunes. “Esse tipo de gente” não existe! Somos todos do mesmo tipo: seres humanos! Pessoas assim precisam de muita oração porque estão perdidas na pretensão de serem melhores, peço que vocês rezem por elas também. Minha pequena nasceu negra, o que me enche de orgulho, assim como minha filha mais velha branca de olhos verdes também. TODAS as cores são lindas. Confesso que a raiva que hoje sinto vai demorar a passar, mas cada sorriso que a Ava recebe na rua, cada carinho de quem passa e se apaixona vai me ajudar a superar. Essa raiva vai ser transmutada em amor, amor por ela e amor por todas as pessoas que sofrem preconceitos diariamente. Ava, minha filha, você é perfeita porque você é você ❤️"
O pai da menina, também usou as redes sociais em resposta ao racismo sofrido pela sua filha. Leia o texto na íntegra:
Minha indignação não se resume a uma violência, a uma maldade, a uma perversidade direcionada a minha filha e a minha família. É uma maldade, crueldade direcionada a minha Ava e minha amiga Luzinete, mãe da linda Sara. Isso mostra a humilhação, da mensagem tácita e explícita que diz que há lugares reservados para uns e não para outros, mesmo que simbólicos, que uns são saudaveis outros degenerados, uns podem bater outros tem direito a apanhar, que somos todos iguais mas bem diferentes. Que mazelas a cor pode nos passar? Que mazelas tem uma cor para que saiam correndo com medo de ser contaminados? Tinham medo de que? De se contaminar de amor? De se contaminar de alegria? De paz? O que incomoda tanto? E que sociedade que vivemos que além de pensar, que além de sentir, permite, sem vergonha alguma, como se legítimo fosse, expressar a
Exclusão, o rótulo, a Eugénia, a crueldade....
Tenho vergonha e tristeza do que construímos, de termos pessoas capazes de atacar não somente uma simples criança mas também uma outra cidadã brasileira,
Como se dela esperasse silencio obrigatório, como se ela também pouco existisse, e pior,
Tão cruel é nossa sociedade que ela se acostumou, acha que tem de viver com isso, não só com a maldade e com a humilhação mas também com seus efeitos pois nossa sociedade é incapaz de defendê-la e reconhecê-la como cidadã. Me sinto culpado por não estar lá para defender a Ava, e também por não defender a LU. Me sinto culpado por Expo -las a esse tipo de gente....
Racismo não é clichê, não é pauta para política, não é conceito abstrato. É uma dor real e concreta que vivemos no dia a dia. Vamos lutar contra isso, todo dia, toda hora, pela Ava, pela Lu e por todos que sentem essa humilhação diariamente. Compartilhem para que possamos ver a gravidade do racismo."
Em nota o Grupo Fasano disse que repudia qualquer ato de discriminação e lamenta profundamente o ocorrido. O grupo informou reafirmar o compromisso em defesa do respeito humano e da diversidade e se coloca à disposição das autoridades para auxiliar na elucidação dos fatos.