Se não fosse o Bolsa Atleta, acho que muitas modalidades teriam fechado as portas. O Bolsa Atleta me permitiu ter esperança no esporte. É o que me permite viver daquilo que amo, que é competir”. Aos 28 anos, o halterofilista paralímpico João França fala a partir de uma longa estrada percorrida. Nascido em Natal com artrogripose, uma má formação das articulações, ele passou pelo atletismo e basquete paralímpicos e há dez anos encontrou-se no halterofilismo. Desde então, integra o programa do Governo Federal. “Há dez anos represento a Seleção Brasileira e há dez anos estou no Bolsa Atleta. Ele é de fundamental importância não só para eu continuar competindo, mas para fazer disso a minha profissão”, diz.
Na quarta-feira (22/5), o Bolsa Atleta atingiu um patamar inédito.
A lista de contemplados publicada no Diário
Oficial da União é a maior da história: 8.716 atletas. O investimento federal
para 2024 é de R$ 148,9 milhões. “Mais uma vez, quebramos o recorde no número
de beneficiados. Este ano, 8.716 atletas receberão o apoio financeiro essencial
para treinar, adquirir equipamentos, custear viagens. Um recurso que dá
tranquilidade para que se preparem e representem bem o Brasil”, afirma o
ministro do Esporte, André Fufuca.
SURDOLÍMPICOS – Do total
de contemplados, a maior parte, 6.240 representantes, competem em 39
modalidades olímpicas. Outros 2.210 atletas defendem 25 modalidades
paralímpicas. Neste ano, o Bolsa Atleta, depois de anos de pleito do setor,
beneficia também representantes de 15 modalidades do programa surdolímpico. São
238 contemplados.
A mesatenista Maria Fernanda da Silva Costa, 22 anos, atleta surda e com Síndrome de Down, pratica esportes desde cedo. Passou por judô, muay thai, taekwondo e caratê, além de ter experimentado yoga e natação. Para ela, o esporte é um dos pilares essenciais de sua rotina, uma vez que a síndrome exige estimulação constante. Agora, contemplada com a Bolsa Atleta na categoria Nacional (R$ 925), ela tem uma razão a mais para se dedicar aos treinos e evoluir.
“É um incentivo para que ela continue se desenvolvendo como atleta surdotenista de rendimento. Mas, além do incentivo, é o reconhecimento de anos de treinamento, estímulo e busca de resultados, tanto por meio de medalhas nas competições até aqui, mas principalmente para o desenvolvimento dela como ser humano”, ressalta a mãe da atleta, a professora de artes aposentada Karen Jackeline da Silva. “O tênis de mesa é o caminho de inclusão na prática para a Maria Fernanda e a obtenção da bolsa neste momento representa um suporte financeiro, sempre necessário, mas um estímulo para continuarmos acreditando no paradesporto como forma prática de inclusão”, prossegue.
Para a presidente da Confederação Brasileira de Desportos de
Surdos, Diana Kyosen, a medida muda o horizonte de toda uma comunidade
esportiva. “É de suma importancia para o crescimento e sucesso do nosso alto
rendimento. Possibilita mais segurança para trazer bons resultados e orgulho ao
Brasil. Traz inclusão e visibilidade para os atletas surdos”, comenta.
ATLETAS-GUIA – Outra
novidade da lista de contemplados deste ano é a entrada de atletas-guia. Em
determinadas modalidades do esporte paralímpico, como atletismo e bocha, os
guias são fundamentais para auxiliar atletas com deficiência visual ou
comprometimento agudo dos movimentos, no caso da bocha. A lista traz 28
atletas-guias.
“Foi uma coisa muito importante a inclusão de guias e
calheiros, que são atletas exclusivos do movimento paralímpico. O atleta cego
precisa correr com um atleta-guia. O atleta da bocha tem que usar o calheiro. É
uma felicidade grande esse recurso destinado aos atletas”, diz o ex-velocista
Yohansson Nascimento, dono de 25 medalhas em Jogos Paralímpicos, Mundiais e
Jogos Parapan-americanos no atletismo e hoje vice-presidente do Comitê
Paralímpico Brasileiro (CPB).
Operador de rampa, nome oficial dos calheiros na
bocha paralímpica, Roberto Rodrigues Ferreira, o Beto, é um dos beneficiados
pela novidade. “Nós somos peça fundamental para que o atleta da classe BC3 (da
bocha) possa atingir os melhores resultados. Nesses longos anos trabalhando com
a modalidade, a preparação sempre foi fundamental para que os resultados
viessem. Porém, nem sempre podíamos estar no mais alto nível por questões
financeiras”.
TRANQUILIDADE – Medalha de
ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona 1992 no judô e atual diretor-geral do
Comitê Olímpico do Brasil (COB), Rogério Sampaio reforça a importância do Bolsa
Atleta para o esporte nacional. “Esses programas dão uma tranquilidade
financeira para que o atleta possa ter recursos para pagar plano de saúde,
comprar material esportivo e para que possa disputar as competições dentro do
Brasil. É importante para que a gente tenha cada vez mais atletas em mais alto
nível participando de competições”, afirma o dirigente.
Uma das sensações da etapa do WTT do Brasil de tênis
de mesa, que está sendo disputada no Rio de Janeiro nesta semana, o jovem
Leonardo IIzuka, de 18 anos, é integrante do programa desde as categorias mais
básicas. Hoje está na Internacional. Após superar o francês Kan Akkuzu por 3
sets a 1 para chegar às oitavas de final do torneio nesta quinta-feira (23/5),
ele definiu a importância do programa em sua trajetória. "O Bolsa Atleta é
uma ajuda do governo que acaba dando suporte para a gente viajar mais, treinar
em outros lugares, disputar mais torneios, porque nem todo mundo uma condição
financeira favorável. Isso ajuda bastante a gente a seguir na carreira e a
alcançar os objetivos que a gente está buscando".
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