No Roda Viva, Felipe Nunes comentou os dados da pesquisa Quaest e explicou por que 66% dos brasileiros diziam que Lula não deveria ser candidato, embora nem todos rejeitassem votar nele.
Segundo ele, assim como em 2022, a eleição de 2026 será decidida mais pelo medo e pela rejeição do que por uma escolha positiva, e o receio da volta de Bolsonaro ainda pesa mais do que o da continuidade de Lula.Em tempos de polarização e desgaste político, o eleitor brasileiro encontra-se diante de uma escolha complexa: seguir com um governo que tem enfrentado críticas e desafios econômicos sob Lula, ou arriscar um retorno a um passado recente marcado por incertezas e tensões institucionais durante a gestão de Jair Bolsonaro. E, diante desse dilema, uma verdade começa a se desenhar no sentimento popular: o medo da volta de Bolsonaro parece superar a frustração com o atual governo.
É fato que o governo Lula enfrenta desgastes. A economia patina, os serviços públicos carecem de avanços visíveis e a sensação de que as promessas de campanha ainda não se realizaram é forte. Porém, ao contrário do que a oposição esperava, esse descontentamento não se traduz automaticamente em saudade do governo anterior.
A gestão Bolsonaro deixou marcas profundas: a condução negacionista da pandemia, os ataques sistemáticos às instituições democráticas, o incentivo à violência política e o desprezo pela proteção ambiental foram episódios que não desapareceram da memória coletiva. Soma-se a isso um estilo autoritário que causou temor em setores diversos da sociedade, da imprensa ao Judiciário, da academia à comunidade internacional.
Enquanto Lula representa, para muitos, a política tradicional com suas contradições e vícios, Bolsonaro simboliza o risco do autoritarismo. É por isso que mesmo aqueles que criticam Lula demonstram hesitação em apoiar um possível retorno do ex-presidente de extrema direita. Há, sobretudo entre os mais moderados, um sentimento de "antes um governo imperfeito do que um salto no escuro".
Essa percepção não é apenas ideológica; ela é prática. O povo teme a volta das tensões institucionais, do isolamento internacional, da truculência verbal que inflamava os ânimos do país e das crises constantes que pareciam nascer do próprio Planalto.
Diante disso, a oposição de Bolsonaro à esquerda não se mostra propositiva, mas reativa, barulhenta e centrada em ataques. Enquanto isso, Lula tenta manter-se como figura de equilíbrio, mesmo que contestada. Essa dinâmica reforça a ideia de que, para uma parte expressiva da população, o risco do retrocesso é mais assustador do que a lentidão do progresso.
No fim, o que se revela é que o eleitor brasileiro não quer apenas um presidente: quer estabilidade, respeito institucional, diálogo e segurança. E nesse cenário, o fantasma de Bolsonaro ainda assusta mais do que os erros de Lula.
0 Comentários