O Brasil acordou com uma notícia surpreendente: o Pix, sistema de pagamentos criado pelo Banco Central e que já faz parte da rotina de milhões de brasileiros, apareceu em um relatório oficial do USTR (Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos) como uma possível prática desleal. A acusação, ainda que embrionária, revela mais sobre a resistência de mercados tradicionais à inovação do que qualquer suposto desequilíbrio competitivo.
O Pix nasceu com um objetivo claro: democratizar o acesso a meios de pagamento, reduzir custos bancários e dar mais eficiência às transações no país. Em poucos anos, transformou radicalmente a forma como brasileiros pagam, transferem e recebem dinheiro. Derrubou tarifas, diminuiu a dependência do dinheiro físico e provocou uma revolução silenciosa na economia cotidiana.
O incômodo dos Estados Unidos — e de parte do lobby financeiro internacional — não é com o Pix em si, mas com o que ele representa: um modelo de pagamento gratuito, universal e gerido por uma autoridade pública. Para grandes bandeiras de cartões e operadoras de crédito, acostumadas a cobrar taxas em cada transação, o exemplo brasileiro virou referência incômoda, mostrando que é possível fazer diferente.
A tentativa de enquadrar o Pix como “prática desleal” soa como uma distorção conceitual. Não há subsídio ilegal, dumping comercial nem restrição a competidores estrangeiros. O sistema é aberto a qualquer instituição financeira autorizada e segue regras transparentes, com alta adesão voluntária por parte da população. Se há algo “desleal” nesse processo, talvez seja o incômodo de grandes conglomerados ao perderem espaço para uma tecnologia mais barata e acessível.
O episódio é um alerta. O Brasil precisa defender com firmeza seus avanços tecnológicos e regulatórios. Não se pode permitir que pressões de lobbies internacionais — travestidas de relatórios técnicos — se tornem instrumentos para minar soluções locais que beneficiam milhões de pessoas e tornam o mercado mais competitivo.
O Pix não é ameaça. É exemplo. Ele mostra que a inovação pode servir ao interesse público, não apenas ao lucro privado. Classificá-lo como problema comercial é, no fundo, reconhecer que um sistema eficiente, gratuito e inclusivo tem o poder de desafiar estruturas que lucram com a intermediação financeira.
O Brasil deve se orgulhar do Pix e defendê-lo. Provar ao mundo que soluções inteligentes, simples e universais podem nascer aqui — e se transformar em referência global — é um feito que merece ser celebrado, não combatido.
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