A “carona” da primeira-dama, Rosangela Lula, a Janja, em um avião da Força Aérea Brasileira (FAB), divulgada nesta segunda-feira (30), está dando o que falar.
Após a repercussão do caso, a assessoria de Janja se manifestou sobre o ocorrido. Em nota enviada à imprensa, foi confirmada a presença da socióloga no voo.
No comunicado, foi informado que Janja pegou a “carona” de Brasília a São Paulo para comparecer a um “consulta na ginecologista” e que a viagem não trouxe “custos adicionais para a União”.
“Janja tinha uma consulta na ginecologista e viajou de carona com os ministros, em um avião da FAB que já estava solicitado pelo ministro Lewandowski. Não tendo, então, custos adicionais para a União”, informou a assessoria.
O voo partiu da capital federal às 9h15 e pousou no Aeroporto de Congonhas, na capital paulista, às 10h50. No avião, havia 12 passageiros a bordo, incluindo o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes.
Políticos de oposição se manifestaram contra a “carona” dada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski. O deputado federal, Kim Kataguiri (União Brasil), informou que a atitude do titular da pasta pode ser caracterizada como “improbidade administrativa”.
O uso de aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) por presidentes e autoridades para fins pessoais ou pouco justificáveis virou, ao longo dos anos, um dos símbolos do distanciamento entre quem governa e quem paga a conta. Embora as aeronaves estejam à disposição oficial do chefe do Executivo, não foram poucos os casos em que viagens de caráter particular ou de lazer foram mascaradas de compromissos institucionais — e isso atravessa governos de diferentes partidos e ideologias.
Fernando Henrique Cardoso usou voos da FAB em deslocamentos que incluíam fins de semana com a família. Luiz Inácio Lula da Silva foi criticado por viagens que combinaram agenda oficial com eventos privados. Dilma Rousseff também utilizou aeronaves em deslocamentos que misturavam compromissos públicos e descanso. Michel Temer foi alvo de questionamentos quando fez viagens fora do expediente oficial. Jair Bolsonaro banalizou ainda mais o uso, levando convidados e familiares para partidas de futebol, férias e até passeios. E Lula, em seu terceiro mandato, voltou a ser cobrado por viagens com aliados políticos em agendas que levantaram dúvidas sobre o real interesse público.
O problema não está em garantir segurança ao presidente — isso é compreensível e necessário. Mas a prática recorrente de usar aviões da FAB como se fossem extensão da casa ou do partido político evidencia uma cultura de privilégios e falta de prestação de contas. Em um país onde milhões não têm acesso ao transporte público digno, cada viagem particular bancada pelo erário é um insulto ao contribuinte.
É fundamental que o uso dessas aeronaves seja regulamentado com critérios objetivos e transparência absoluta. Viagens estritamente pessoais devem ser reembolsadas, com valores compatíveis ao custo real do deslocamento. Toda agenda deve ser publicada de forma clara. E casos de abuso devem ser responsabilizados, independentemente de quem esteja no poder.
A FAB não é empresa de táxi aéreo para presidentes, tampouco o patrimônio da União pode ser tratado como extensão dos privilégios do cargo. Enquanto autoridades continuarem a ignorar essa fronteira entre o público e o privado, a indignação da sociedade só vai crescer — e com razão. Afinal, respeito ao dinheiro público é obrigação, não cortesia.
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