A discussão sobre ampliar a autonomia da Polícia Federal no combate ao crime organizado sempre esbarra em resistências políticas — especialmente por parte de alguns governadores. Mas por que isso acontece? A resposta envolve poder, controle e interesses estratégicos.
A autonomia plena da PF significaria reduzir a influência política sobre operações sensíveis, que muitas vezes envolvem figuras públicas, estruturas estaduais e até aliados eleitorais. Governadores temem perder o controle narrativo e operacional sobre a segurança pública, que é uma de suas principais vitrines administrativas. Uma ação federal independente poderia expor esquemas de corrupção, milícias ou conexões entre autoridades locais e o crime organizado.
Além disso, existe uma disputa de protagonismo. As polícias civis e militares são subordinadas aos estados. Dar mais espaço à Polícia Federal pode gerar sensação de esvaziamento do poder estadual, enfraquecendo a imagem dos governadores na área da segurança pública — tema crucial para a opinião pública.
Por outro lado, defensores da autonomia argumentam que o crime organizado já não respeita fronteiras estaduais e opera com redes nacionais e internacionais. Portanto, a PF — com maior estrutura investigativa e recursos tecnológicos — teria mais condições de liderar esse enfrentamento com liberdade e eficiência.
No centro dessa disputa está uma questão fundamental: segurança pública deve servir ao interesse do Estado ou da sociedade? Enquanto a lógica política impedir que essa resposta seja clara, o crime organizado continuará se beneficiando das brechas entre os poderes.

.jpg)
0 Comentários